Sistemas de Gestão como passo decisivo para a Sustentabilidade

Todas as grandes empresas, hoje em dia, preocupam-se em aplicar alguma forma de “sistema”, visando obter condições comerciais mais favoráveis para seus produtos, seja dentro do mercado interno ou externo. Entretanto, parece que a maioria perde de vista o grande foco de tais sistemas, fixando-se tão somente na questão da certificação – elas “buscam” a certificação, como é comum se ouvir falar e ler nos artigos especializados.

Tal ação lembra muito o procedimento que nós, na qualidade de pais ou professores, utilizamos com relação ao sistema educacional brasileiro. Nossos filhos – nossos jovens – são literalmente adestrados para “passar no exame vestibular”. Essa é uma visão míope do sistema, que registra em um ponto no tempo ao redor de cinco anos antes a grande marca, a grande realização. Geralmente não se pensa no término do curso superior e na aquisição de uma carreira profissional. Isso explica o grande número de desistências, transferências e excessiva permanência de estudantes universitários, mormente nas universidades públicas.

As empresas fazem exatamente o mesmo: fixam-se na certificação e perdem de vista todos os grandes benefícios que um sistema de gestão lhes pode prover. É comum ouvirmos que executivos e outros gerentes não podem comparecer a um curso ou a alguma reunião importante em determinada data porque “teremos auditoria naquela semana e temos de nos preparar!” É a mesma coisa que o aluno do curso médio faz: “prepara-se para o vestibular”, e perde as oportunidades que o saber perene lhe propicia – aliás, que lhe teria propiciado se, desde a tenra infância, lhe tivesse sido ensinado que o saber é o importante, e que marcos do tipo passar em exames são decorrência natural desse saber.

As empresas se beneficiariam muitíssimo se adotassem a mesma estratégia – o desempenho competente do corpo gerencial (entenda-se do mais alto executivo até o menor nível de supervisão) manteria a empresa estável e sustentável, e certificações seriam uma decorrência natural de tal desempenho.

Michael E. Porter, professor de administração de negócios da Harvard Business School em Boston, Massachusetts, Estados Unidos da América, afirma em artigo publicado na Harvard Business Review, edição de novembro-dezembro de 1996, p. 61, o seguinte: “A busca da produtividade, qualidade e velocidade desencadeou o surgimento de um número significativo de ferramentas e técnicas gerenciais: gerenciamento da qualidade total, benchmarking, competição baseada no tempo, outsourcing, partnering, reengenharia, gerenciamento de mudanças. Embora as melhorias operacionais resultantes tenham sido drásticas, muitas empresas frustraram-se devido à sua inabilidade de traduzir tais ganhos em lucratividade sustentável. E pouco a pouco, quase imperceptivelmente, as ferramentas gerenciais tomaram o lugar da estratégia. À medida que a gerência esforça-se por melhorar em todas as áreas, acaba afastando-se cada vez mais das posições competitivas e viáveis.”

Porter também nos ensina que uma empresa somente pode sobrepujar seus competidores se puder estabelecer um diferencial que consiga preservar. Na verdade, a tradução dessa afirmativa é que as empresas sustentáveis são capazes de oferecer alta qualidade a custos baixos. Significa que elas conseguem atingir o limiar da produtividade, uma zona não claramente delimitável, que representa a soma de todas as melhores práticas operacionais existentes em um determinado momento. Tal limiar representa o valor máximo que uma empresa, ao colocar no mercado determinado produto ou serviço, pode criar a um determinado custo, utilizando as melhores tecnologias, habilidades, técnicas gerenciais e todos os inputs adquiridos.

A questão é que o limiar da produtividade vai avançando para mais além, sempre que novas tecnologias e abordagens gerenciais, juntamente com insumos de ponta, tornam-se disponíveis. É aqui que a estratégia torna-se mais importante que os sistemas de gestão em si, os quais podem ser colocados em seu devido lugar como ferramentas que são. As empresas devem aprender a parar de trabalhar para os sistemas, e fazer os sistemas trabalharem para elas.

A essência da estratégia, afirma Porter, está na escolha da realização das atividades de maneira diferente dos competidores. (op. cit., p. 64). A NOSA recomenda que a estratégia inicie-se com a análise dos riscos operacionais do negócio, porque acreditamos na máxima de Peter Drucker, parafraseando Louis Allen, que minimizar as perdas pode ser mais importante que maximizar os lucros. Comece definindo seu macrofluxo operacional, divida-o nos processos e processos auxiliares, estabeleça as atividades de cada segmento do processo e levante os fatores de risco (ferramentas, produtos, pessoas, máquinas, etc.) envolvidas em cada atividade. Defina, então, os riscos (probabilidades de eventos negativos) para cada fator de risco. Avalie os riscos de modo quantitativo e qualitativo. Estabeleça medidas de controle e monitore-as, para garantir sua eficácia. Esse é o primeiro passo.

Benedito Carlos de Souza