O gerente “ideal”
para a empresa que possui um bom programa de SSMAQ
Uma das tarefas mais difíceis que
existem é selecionar e desenvolver bons gerentes.
À primeira vista, pensa-se que a formação
técnica em escola de primeira linha, cursos de
pós-graduação (preferencialmente
no exterior) e experiência profissional anterior
em empresa de grande porte são o suficiente. A
linguagem dos currículos que lemos e dos anúncios
que publicamos passa necessariamente por aí. Ambos
possuem requisitos e ofertas ? normalmente 20% de ofertas
e 80% de requisitos nestes, e o inverso naqueles ? só
para lembrar Wilfredo Pareto.
O resultado final é um composto de meias-verdades
somadas a interesses e anseios, temperados pelo toque
científico de zelosos selecionadores que irão
aplicar os testes e dinâmicas da moda. De vinte
anos para cá, as empresas têm lutado para
vencer essa monotonia milenar, sem muito sucesso aparente,
exceto para os “gurus” que, diferentemente
deste humilde autor, prestam-se a escrever opulentos volumes
com teorias mirabolantes que os empresários, muitos
ávidos pela administração por “best-sellers”,
logo põem em prática. Quem não se
lembra da Teoria Z, da APO (I e II), do “grid”
gerencial, da re-engenharia, etc., etc., e, mais recentemente,
da “Inteligência Emocional”?
O desafio, na verdade, está
em encontrar a linguagem que fale às pessoas, e
não qual teoria administrativa é a mais
eficaz. Os responsáveis pela condução
do estilo gerencial da organização devem
voltar-se para a linguagem, verbal e não verbal,
que os gerentes utilizam, e trabalhar o correto entendimento
do idioma falado e tipificado, para que se obtenha o tão
desejado sucesso. O problema dos “gurus”,
como definiu Harry Levinson (1973) , é que “já
que a maior parte dos cientistas comportamentais não
têm qualificações para lidar com organizações
em mudança (e, hoje em dia, todas as organizações
estão em mudança!), não estão
em condições de ensinar aos executivos como
muda-las.
Quando nos referimos a programas
de segurança, saúde, meio ambiente e qualidade,
tal preocupação deve ser ainda maior, porque
todos os trabalhadores sentem que seu trabalho afeta diretamente
suas vidas, não apenas do ponto de vista familiar
e social, mas também do biológico ? no fundo,
a própria sobrevivência como seres humanos
pelas gerações futuras. A linguagem tem
de ser sincera e clara. Levinson (op. cit.) também
afirma: “para muitos gerentes, motivação
e manipulação significam a mesma coisa,
mas os empregados sabem a diferença”.
Enumero abaixo, alguns pontos fundamentais que aprendi
quando participei de um seminário da General Electric,
em junho e julho de 1980:
1. Os gerentes quase sempre desconhecem o significado
das idéias pré-concebidas acerca de comportamento,
particularmente de suas próprias idéias
pré-concebidas na área de recursos humanos,
e o impacto no seu comportamento como gerentes;
2. Os gerentes, em quase todos os níveis, parecem
desconhecer, ou substancialmente menosprezar seu impacto
e influência sobre outras pessoas na organização;
3. A atuação na área dos recursos
humanos é, para os gerentes, uma prioridade menor,
se comparada ao trabalho de contribuição
profissional propriamente dito, ou o trabalho administrativo;
4. O gerenciamento dos recursos humanos é um trabalho
menos gratificante para muitos gerentes, se comparado
ao trabalho de contribuição profissional
propriamente dito, ou o trabalho administrativo; ou seja,
muitos gerentes não gostam de gerenciar pessoas;
5. Os critérios para a escolha das pessoas que
ocuparão posições gerenciais parecem
focalizar a competência técnica no trabalho
funcional, e não o interesse e habilidades demonstrados
na área dos recursos humanos;
6. As prioridades gerenciais na alta administração
parecem estar voltadas para as necessidades dos gerentes,
sendo excludentes, portanto, da adequada consideração
das necessidades das pessoas nos escalões inferiores;
7. A medida do sucesso gerencial no clima atual do mundo
dos negócios baseia-se fundamentalmente nos resultados
financeiros a curto prazo, e não no desempenho
efetivo na área dos recursos humanos;
8. O “gerenciamento por exceções”
? ou seja, focalizar apenas os desvios desfavoráveis
? é a abordagem cada vez mais aceita, quanto mais
alta a posição ocupada no escalão
gerencial. Os gerentes parecem evitar reconhecer o perigo
desse tipo de comportamento, e as conseqüências
adversas que traz ao ambiente de trabalho;
9. A maioria dos gerentes demonstra pouco ou nenhum entendimento
do que sejam recompensas e punições ? particularmente
o propósito e a aplicação das recompensas
(reconhecimento) de modo tangível e intangível
para satisfazer as necessidades dos empregados, e o impacto
devastador que o uso excessivo e inadequado das punições
tem sobre o desempenho, individual e coletivamente;
10. O conceito de “clima organizacional”,
e as conseqüências de um clima bom ou ruim
sobre a produtividade, parece ser um ilustre desconhecido
para quase todos os gerentes, além de ser um conceito
tratado pejorativamente por eles, denotando desconhecimento
de causa;
11. A inabilidade que muitos gerentes têm de lidar
com seu intelecto e suas emoções em base
integrada, impede que cumpram plenamente seu papel como
gerentes na área dos recursos humanos;
12. Um número substancial de tarefas gerenciais
está voltado para verificações, auditorias,
avaliações e, de modo geral, “julgamentos”
do trabalho de outros empregados ? sem qualquer entendimento
aparente das conseqüências dessas atividades
no clima organizacional da divisão, departamento,
etc., e, finalmente, na produtividade dos empregados envolvidos;
13. Mais e mais gerentes (felizmente!) estão reconhecendo
qual deve ser o papel do gerenciamento dos recursos humanos,
e buscando oportunidades para o seu próprio crescimento
e desenvolvimento nesta área tão negligenciada.
Quando nos voltamos para os elementos de SSMAQ, vemos
que é fundamental o interesse e o trabalho dos
gerentes, de todos os níveis, na área dos
recursos humanos, para que os resultados sejam atingidos.
Benedito Carlos de Souza